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Encontro de gerações

  • Foto do escritor: A.C S.M
    A.C S.M
  • 26 de fev.
  • 5 min de leitura

Me lembro vagamente da primeira vez que vi Bridget Jones passando na televisão. Na verdade, sempre vi minha mãe assistindo e, vez ou outra, passando por um canal. Não importa o dia, sempre olhava de maneira superficial.


Eu era pequena quando o mercado aqui do meu bairro - na época gloriosa e distante do cinema dentro de mercados - colocou o poster do terceiro filme. Como a criança curiosa que era, observei a foto engraçada da mulher com um caderninho na frente do rosto e dois homens lindos do lado.


E, assim como todas as vezes, eu ignorei. Hoje olho pra trás e fico me perguntando PORQUE eu só não entrei na sala ou perguntei do que se tratava ou só babei naqueles homens que, diga-se de passagem, estavam muito bem posicionados naquela parede.


Enfim, não sei ao certo quando eu sentei para assistir, de fato, mas daria um centavo muito bem guardado e economizado do meu potinho pra ter a experiência de novo - sim, prezo muito pelos meus centavos, muito obrigada.



a deusa que representa nós, meros mortais.

Em dado momento da minha trajetória consumi muitos romances, entre eles a saga da nossa querida Bridget. Sempre fiz careta e virei o rosto para essas histórias clichês, enquanto minha mãe dedicava todo pouco tempo livre que tinha para se debulhar em lágrimas em frente a tela.


Hoje, desejando por mais filmes antigos de amores impossíveis, entendo perfeitamente a sensação de leveza e descontração que só eles são capazes de proporcionar. Minha mãe ri quando me vê chorando porque, não ironicamente, agora os papéis estavam invertidos.


Maratonei a saga da solteirona mais amada em uma sentada, comecei pelo último porque, nos belos tempos da tv aberta, só passava ele. Agora já não é mais assim, sempre tem um canal abençoado para reprisar Bridget Jones, um clássico que envelheceu muito bem.


Foi nessa história que conheci grandes atores como Hugh Grant, Colin Firth e, claro, a caricata Renée, sempre entregando tudo com suas expressões. Nesse universo, o telespectador pode facilmente se identificar com os perrengues da protagonista, todas as atrapalhadas, questões mal resolvidas e escolhas questionáveis motivadas pela emoção, a tornam mais humana.


Acho que podem considerar um exagero, mas nenhuma narrativa me deixou tão emotiva, risonha, frustrada e entregue quanto Bridget Jones. Eu acredito que o filme ainda vai alcançar muitas gerações e, com esse último lançamento, tenho certeza que trará mais fãs para a trupe das solteironas em crise.


Doí se despedir e, doí mais ainda, descobrir que a trilogia que tanto amou terá uma sequência. Me questionei se havia mesmo necessidade, sabe? Ou se era outra lavagem de dinheiro e falta de conteúdo em Hollywood.


Outra vez, quebrei minha cara.



"Está na hora de viver."

Para começar é uma sequência que segue a ordem de acordo com os livros. Sim, Mark Darcy nos deixa nesse último episódio (o que não é um spoiler, já que o trailer revela logo de início) e nossa principal romântica incurável tenta seguir cuidando de seus dois filhos, depois de longos filmes para terminarem juntos, nosso casal não esperava que a morte os alcançasse.


Em "Bridget Jones: louca pelo garoto" temos mais uma dose de eventos catastróficos, mas que são revertidos em gargalhadas agradáveis pela forma de Bridget reagir a cada um deles, algo único que se mantém. A essência é a mesma, honrando as interações entre os personagens, todo laço desenvolvido e uma pitada de nostalgia.


Essa nostalgia foi a responsável por reascender aquele calor no peito. Hugh Grant retorna com seu humor impecável e sua postura cafajeste e o próprio Mark tem algumas aparições conforme Bridget vivencia seu luto.


Uma pauta importante, o sentimento de perda e a parte de superar foi muito bem desenvolvida, respeitando o momento da protagonista, mas sem deixar de mostrar suas necessidades como mulher. E, agora, tendo obrigações como mãe em tempo integral, Bridget precisa organizar a vida dentro de casa para voltar a viver.


Há também o debate sobre as dificuldades de conciliar o trabalho, a vida amorosa e o papel de mãe. Sem mencionar o tema supostamente principal que é o título do filme, o namoro com alguém mais novo, com vivências diferentes ou até a falta delas.


A relação de Bridget com o garoto não foi tratada como algo bobo, mas sim com aquela leveza habitual dos filmes anteriores. Há sexo, há tortas, há cenas com tanquinho (muito bem elaboradas, por sinal. Que visão) e transição com música.


Não vou me aprofundar muito nessa parte para não estragar a experiência de quem pretende assistir, mas digo que, se gostou da trilogia (até mesmo o terceiro que não é lá essas coisas, mas vale mesmo assim) dê um final digno ao seu relacionamento com Bridget Jones e vá assistir!


Após anos de momentos e risadas, não acha que ele merece ser prestigiado em todas as suas duas horas e sei-lá-quantos-minutos finais? Toma rumo e trate de sentar a bunda na cadeira para assistir como se fosse o show do seu ídolo ou, sei lá, uma palestra importante da faculdade.



fique ligado nessa cena

Nem preciso dizer que esse último filme é recheado de referências, né? Com direito a uma playlist viciante que, semanas depois de ter assistido, me vejo perdida dentro de um looping infinito.


Tive a honra de assistir com a minha mãe, a mulher que tanto admiro e que me levou para o caminho sem volta dos romances apaixonantes (e doloridos. Céus, eu vou morrer mesmo sozinha??)


E, para completar o pacote, minha irmãzinha foi junto. Claro que me surpreendi quando fomos barradas e pediram a autorização porque, ao que parece, a classificação subiu de quatorze para dezesseis, o que, francamente, achei um exagero, mas quem sou eu para contestar uma coisa dessas, não é?


Tudo deu certo no final de contas e, depois de assistir o romance mais longo da era Bridget, percebi meu rosto molhado pelas lágrimas e, quando dei por mim, sofria de um funga funga inquietante.


Me despedi de uma das melhores fases que tive e quis com todas as forças visitar ela. Tem dias que sentia isso, não estava no meu melhor estado, mas, de novo, Bridget surgiu na minha vida escura e a iluminou, não com sua roupa de coelhinha ou com seus namoros.


Mas apenas por ser ela.


O filme não é sobre o garoto, não é sobre o possível relacionamento ou sobre os inúmeros encontros que uma viúva pode ter, é sobre perder alguém, mas não deixar que essa perda nos afaste de quem nós somos. Mostra que não precisamos superar aquele ente querido como uma coisa que já se foi, mas que podemos falar dele e senti-lo, sem deixá-lo para trás.


É sobre essa mulher humana, tão simples e excêntrica em suas normalidades quanto qualquer uma de nós. Por essa e outras coisas, recomendo uma dose de Bridget Jones para o seu dia.


Por aqui fico e me despeço. Por hoje é só pessoal <3



 
 
 

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